11 de junho de 2018 gabrielestevam

Biocombustível: aposta vai aliviar demanda por diesel

O acordo feito entre o Governo Federal e os caminhoneiros para subsidiar o preço do óleo diesel pode repercutir não apenas nas contas públicas, como também no meio ambiente, já que os veículos movidos por este combustível são altamente poluentes. A estimativa inicial do custo destes subsídios é de R$ 5 bilhões a cada 30 dias para o contribuinte, mas este montante pode variar de acordo com o comportamento do petróleo e do dólar.

Para atender a essa demanda e evitar crises futuras, surge como uma solução os biocombustíveis, que são alternativos ao óleo diesel mineral, resultado da transformação química de matérias primas de óleos vegetais, como dendê, soja, mamona, entre outros, ou gorduras animais e resíduos gordurosos.
De acordo com o engenheiro ambiental Gabriel Estevam Domingos, diretor técnico no Grupo Ambipar, os investimentos e incentivos à produção de combustíveis 100% renováveis, como o biodiesel, começaram na última década, mas são ainda modestos. Segundo ele, do ponto de vista estratégico, pode ser uma alternativa interessante, pois o biocombustível pode ser produzido em diferentes regiões do País, reduzindo a dependência das importações e, dessa maneira, os custos.

Do ponto de vista ambiental é também positivo, uma vez que suas emissões de dióxido de carbono são bem menores. “O único programa de sucesso com esse objetivo nos últimos anos, foi o Proálcool, o qual introduziu, de maneira muito relevante, o álcool combustível em nossa matriz energética renovável. Uma mudança de prioridades poderia impactar positivamente o meio ambiente e a economia, já que a diversificação das fontes de energia ajudaria a aliviar a demanda pelo diesel”, aponta o engenheiro.

Uso gradativo
Segundo Estevam, desde janeiro de 2008 (lei artigo 2º da Lei n° 11.097/2005,) o biodiesel vem sendo adicionado no óleo diesel comum de uma forma muito modesta, iniciando com 2% (B2), e ao longo dos anos teve um aumento gradativo até atingir 10% (B10), este ano. A expectativa é que o aumento gradual da mistura de biodiesel no diesel seja revisada pelo Governo, que deve enfrentar dificuldades para acertar as contas após a concessão do pacote de benesses para a categoria de transporte rodoviário.
O biodiesel produzido no Brasil consiste em um processo de fabricação simples, conhecido como transesterificação e acontece por meio de um catalizador que faz com que os triglicerídeos presentes nos óleos e gordura animal reajam com um álcool primário, metanol ou etanol, gerando dois produtos: o éster e a glicerina. Conforme Domingos, além de ter um custo de produção mais baixo, o biodiesel pode ser utilizado em veículos a diesel, sem necessidade de adaptações no motor, além emitir muito menos gases poluidores, sem falar que apresenta um ótimo desempenho.

Desafios são de pesquisa, que necessita investimento
Apesar disso, há um campo a ser percorrido: o da pesquisa e aperfeiçoamento – que demandam constante investimento. Atualmente, apesar de já ser utilizado, o custo de produção do biodiesel é um desafio. De acordo com o professor André Valente Bueno (foto) – que coordena o Laboratório de Motores de Combustão da Universidade Federal do Ceará (UFC) e possui doutorado na Universidade de Campinas-SP (Unicamp) com a tese “Análise da operação de motores diesel com misturas parciais de biodiesel” –, o preço médio de produção do biodiesel, sem se considerar a margem da Petrobras, é da ordem de R$ 2,50. Para o diesel de origem mineral, este preço é da ordem de R$ 2,30.

Para o especialista, além de ser menos poluente e renovável, “a produção do biodiesel tem um impacto social positivo e contribui para o fortalecimento da agropecuária nacional”. Por outro lado, os custos da produção não ajudam a reduzir o preço final aos consumidores. “Neste momento, o aumento do percentual de biodiesel adicionado ao óleo diesel mineral não contribuiria para a redução de preço. Contudo, caso o preço do petróleo continue a subir esta situação poderá se alterar”, ponderou Bueno.
O professor aponta, ainda, que há, por parte do Governo, interesse nessa produção, e que, inclusive, “há portarias da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) que tornam obrigatória a adição de percentuais progressivos de biodiesel no diesel empregado em aplicações de mobilidade”. André considera que essa valorização da política de adição de biocombustíveis é fundamental para assegurar alternativas viáveis de suprimento de combustíveis em um eventual cenário com encarecimento dos combustíveis de origem fóssil devido a flutuações no preço do petróleo. “A melhor pergunta a se fazer seria quanto custa e quanto poderá vir a custar no futuro uma opção de não se priorizar o investimento em pesquisa e produção de biocombustíveis”, finalizou o especialista.

Fonte: https://www.oestadoce.com.br/economia/biocombustivel-aposta-vai-aliviar-demanda-por-diesel